25 junho 2005

...Hoje perdi a minha melhor amiga nos meus próprios braços...

24 junho 2005

Ontem vomitei que nem louca, chorei como há muito não fazia, em frente a toda a gente (!para grande desgosto meu!), desmembrei-me de partes corpóreas e, ou muito me engano, o pai faria anos hoje… Por isso bebi cerveja com o estômago vazio e vomitei. A mãe não gosta que eu ande assim por isso vou ficar boa!
Para depois brincar com todo o jeito que tenho para isso mesmo, não é Marta?!

Mimi, tamos bem!

Tia, tamos bem!

Marta, tamos bem!

Pikena, vamos indo...

23 junho 2005

A bem da verdade, e é em verdade que vos digo, nunca na vida imaginei ser possível história com tais contornos macabros, com tal sofrimento à mistura, com tal horror no seu todo que ainda não creio no que se sucede.
Um olhar cada vez mais distante e cadavérico que me faz perguntar que pessoa é aquela a quem chamo e a quem dou atenção. Nota-se de dia para dia o declínio do organismo, a falta de força, a vontade que se desvanece perante a dor e a perda.
Em jeito mais ou menos poético, o sopro de vida descrito em parábolas é isso mesmo, um sopro que quando começa a desaparecer tudo o resto falta.

Perguntar “quem está aqui?”, ver os olhos à procura da voz, ver que por momentos não há a associação imediata, que a vontade verdadeira é partir e que a cada dia algo mais vai faltando, transtorna-me de tal forma que nem chorar ainda consegui.
Às vezes apetece mas não posso e quando posso já não apetece. Fala-se de tudo com o saudável distanciamento, não omito nada se me perguntarem e, ao contrário do que se pensa, tenho até conversado bastante sobre o assunto (-Ana Marta podes dizer isto à tia..-), de forma aberta e sem esconder a dura realidade.

“Mas e tu como estás?”

Isso agora não interessa nada e quando digo “vou andando”, vou mesmo andando, não sei como estou, não minto em relação ao meu estado. Ainda não tive tempo para pensar nisso.
Às vezes apetece pensar e não posso e quando posso já não apetece.
Peço compreensão por às vezes estar distraída, peço desculpa por tudo o que já não consigo fazer, mas a vida é dura demais para conseguir manter a postura de tempos de glória.
(Dos melhores elogios que já me fizeram:"És a life of a party!" Não mais, esqueçam-me que as vibes são muito más!)
Parece um filme dos Monty Python, com todos os pormenores de malvadez, só que na pele não tem assim tanta piada e arde. É isso que sinto, um ardor e uma náusea constante que não sei quando, muito menos se, passará. Queria mesmo era deitar vísceras e miudezas pela boca fora. Às vezes apetece vomitar e não posso e quando posso já não apetece. É falta de tempo… E todo ele urge enquando se ouve um tiq-taq… tiq-taq…tiq-taq…tiq-taq…tiq-taq

16 junho 2005

Estava há dias num hipermercado, num daqueles dias em que não vale a pena ir aos hipermercados, dias em que todos podem ir ao hipermercado, em que os hipermercados estão cheios de gente que pode ir aos hipermercados por ter disponibilidade de lá ir. À espera numa caixa para pagar o tipo de produtos que se compram num hipermercado e olhei para tanto povo, tanto dinheiro, tanta indústria, tanto gesto semelhança entre tanta gente e com tanta semelhança entre si.

É um ecossistema criado e adaptado ao que todos necessitamos. Todas as pessoas para quem olhei tinham roupa, tinham relógio, tinham o cabelo lavado, tinham a barriga composta (e bem composta) e a julgar pelo aumento da obesidade junto das nossas crianças, até com excesso de compostura, tinham um meio de transporte para se deslocarem até casa, tinham casa, sua ou duma qualquer entidade de concessão de crédito.

Depende-se sempre de terceiros para o bem-estar próprio. Eu dependo duma indústria para viver, trabalho numa indústria que permite aos restantes viver e todos estamos algures nesta cadeia, uns buscam o polén e outros consomem-no em doces repastos de quem nasceu com mais sorte. Vi como todos lá estamos e não somos assim tão diferentes. Perdi individualidade ao nascer, deixe de ter unicidade ao sujeitar-me às demais imposições sociais e assim vivo quer queira quer não.

Mas o que me garante individualidade são os amigos que só eu tenho e que só comigo interagem daquela forma. São eles, a família que importa, que me permite excessos e, como tantas vezes já o escrevi, a quem agradeço. São só vocês, mãe, pai, manos, demais povo, gosto tanto de todos que me perco ao lembrar. Ando com o pingo na fralda mas mesmo assim feliz por ter a quem falar mal quando tudo o resto corre menos bem.

Dentro daquela colmeia que vi, do ecossistema implantado, sacos atrás de sacos, gestos iguais, cheiros estereotipados, sobressaio não nas posses mas sim no que não se mostra e que só vocês conseguem ver.

São anos a estudar, livros que ocupam estantes, individualidades que se perdem quando outros tantos já estudaram o mesmo e aqueles livros não são nossos e já houve quem os lesse. “Aos amores!” – exclama o camarada e só a esses nos é dada a forma de estar que é só nossa. Quanto à merda do resto, no bedum colectivo, somos todos um só.

E pronto!

14 junho 2005

Os médicos não falam o português e servem um público que domina a língua mãe de forma parca e frugal…

Passo algum tempo entre serviços médicos e hospitalares e o que mais me salta à sensibilidade (que acreditem não ser assim tanta) é a falta de humanidade com que se tratam os doentes. Não falo dos maus cuidados médicos, disso não me queixo porque não tenho argumentos para me queixar já que pura e simplesmente não sei o que eles fazem. Refiro-me sim ao toque pessoal, ao tacto na linguagem, à preocupação em saber o resto da doença, o resto do doente.

Cada paciente ao dar entrada é tratado como um episódio, anotam-se sintomas e sinais e tudo se guarda num arquivo dentro dum classificador. Compreende-se, é muita gente, a informação tem que circular bem, mas e o resto? O resto perde-se no caminho entre a entrada na urgência e o tratamento efectivo do paciente. Há tanto mais à volta que se ignora e não interessa, não é académico, não acaba em qualquer coisa imperceptível “ite” nem em grande-palavrão “igia” e só por isso não interessa nada.

Os sentimentos do doente são os sintomas da doença e nada mais que isso, a família transforma-se em dois cartões para visitas e num transtorno para a equipa médica com perguntas e mais perguntas, a profissão e o modo de viver de quem se contorce e geme esquecem-se, tornam-se um segundo plano, de quem deixa de ser útil. Passa-se a servir o corpo e as suas manhas, deixa-se o seu uso para outros tempos, a saúde é uma memória.

Deve ser triste saber, tal como é muito triste ver, que as nossas falhas, a falta de controlo do corpo, tudo o que se deixa de comandar na carne, são motivo de chacota e de conversa entre aqueles que juraram zelar pelo nosso bem. Compreendo o distanciamento, também eu gargalhei em ocasiões com as aventuras que pessoas amigas contaram, mas os “episódios” são episódios de gente(s) e exijo sempre que me olhem assim, mesmo que não seja meu o peso que molda o leito.

Vejo a medicina não como um combate às doenças, encaro-a como uma luta pela vida do doente e antes de entrar no hospital, todos levam uma história, todos levam algo de si que deve ser respeitado e lembrado. A D.ª Paulinha, acamada, faz isso mesmo com aquele brilhozinho nos olhos. Se calhar, é por isso que quem a trata se lembra que existe uma vida e por isso a trate tão bem.

E pronto!

12 junho 2005

Em jeito de domingo à tarde, com a barriga cheia de boa comida, já que ao domingo há sempre mais tempo de a confeccionar, a pinga bem fresca que se bebe e uma grande vontade de fazer o nada, sentei-me ali fora no jardim a ouvir o espaço.
Meio acordada, meio a dormir deambulei por tempos e gentes com quem privei, lembrei-me velhos hábitos, de coisas que dantes fazia, do que se manteve e das gentes que ainda gosto e que gostam.

É-se feliz com tão pouco meus amigos, basta um punhado cheio de nada para se encher o peito, recarregar um outro tanto e largar um sorriso conivente. É o que baste.
Uma presença aconchegante que nos afaga e que não teme ir mais além, apesar de olhares estranhos, de outros hábitos, de fazer vida em ambiente alheio. Basta a presença, como tudo o que dela possa surgir e é nessa simplicidade que se estranha ainda mais o potencial e o que dele advém.
Magia? Não pode ser. A magia acontece e acaba por fugir, fruto do cansaço rotineiro que se cria. Há que trabalhar, há que fazer todos os dias, há que compreender e largar um pouco a vida própria para a dar aos outros. É bom quando isso nos acontece e perdoe-me a quem eu devo e não me cobra. É por demais o desprendimento, a relatividade do que é prioritário. Esquece-se até o electrodoméstico em outras mãos já nas de quem de direito não faz (fez) falta.

Companheiro Sérgio, estamos juntos, compreendo-te na perfeição e mais que isso até. É tão bom e com tudo tão cheio de muito que relembro e me encosto a jiboiar com um sorriso maroto e um grande brilhozinho nos olhos.

09 junho 2005

E falar e escrever, falando e escrevendo, sem nada de concreto, peca este blog por ser demasiadamente pessoal. Os incautos, aqueles a quem aceno na rua, nada sabem, não entendem, nunca mais voltam, fica todo o meu potencial reduzido a pequenas confissões de adolescente. Não opino muito, acho que não se deve opinar assim tanto como isso, daí não usar este espaço como folheto para a revolta, muito menos para a insurreição das vontades.

….pikeno comentário…..

Diz o homem que me paga que:”se o car**** do filha da p*** do IVA aumenta, quem faz uma guerra sou eu!” É um homem muito cómico!

….avante...

Da maneira como isto anda, interessam-me sim os amigos, os mais que amigos e pouco mais povo que aqui venha. Está difícil manter a moral, aguentar ali o barco, com o estômago na boca do balanço dos dias. É para essa gente que vai o cumprimento, pancadinha nas costas, aquele particular abraço. Dizia à minha mãe:”afinal temos mesmo muitos amigos!” – ao que respondeu com um aceno de consternação de quem sente que isso só não chega, mas ajuda mãezinha.
Havemos de ir a Fátima a pé mesmo que no fundo se saiba que é difícil que tal aconteça e todos os prognósticos (vindos dos mais doutos no assunto) apontem o contrário.
Vou acreditar que é mais ou menos como o totoloto, é difícil acertar, probabilidades mais que muitas, hipóteses quase nulas, mas lá acontece e faz muita gente feliz.

07 junho 2005

Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer!

[Quando era pequena e fazia asneiras que me corriam mal, criava pequenos mundos só meus, onde tudo corria bem e da melhor forma, onde eu acaba por vencer os vilões e salvar a pele da terrível ameaça duma sova...
Acho que vivi grande parte da minha vida num universo paralelo que construía conforme as minhas conveniências. Vou tentar fazer o mesmo com isto que agora me aconteceu e repetir, as vezes que forem precisas: “Isto não me está a acontecer!” – pode ser que assim não aconteça mesmo e aí vamos nós para o que dantes era bom.]

Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer!

06 junho 2005

'Tá tanto quente...ai mãe...


Bom, hoje será um blog cheio de bad-vibes, ao contrário do que se tem passado ultimamente. Está demasiado calor para eu ficar bem disposta e, surpresa das surpresas, para o meu arrufo com o pronto-a-vestir, nem comer me apetece. Pode ser que com esta anorexia compulsiva, faça as pazes com as cadeias de lojas de roupa.
Recebia há pouco, certo e determinado telefonema, que me deu forte pancada na barriga não por quem me estava a telefonar, mas sim, pelo resto.
Não sei se o mesmo se passa com vós, mas aqui a Tia-da-França nutre, por certas e determinadas pessoas, um ódio particularmente azedo e voraz na forma de o expressar e de o sentir. Não pela pessoa em si, mas sim pela circunstância em que a pessoa surge/surgiu na minha vida. Há certos e determinados acontecimentos que escapam ao controle próprio (a bem da verdade, quase tudo) e como tal levam a que tudo relacionado com esse tal espécimen seja toldado pela minha percepção, ficando eu em grande alvoroço e, em certas e determinadas situações, extremamente aborrecida. Agora fiquei assim: em alvoroço e com o aborrecimento na barriga.
Quando tal me sucede, o que faço é engendrar certas e determinadas atitudes, não necessariamente explícitas, mas duma forma implícita. Como tal congeminei umas poucas manobras, deliniei um plot, que decidirei, a seu tempo, quando e qual a melhor forma de a praticar.
Para além da merda do calor, da porra do sovaco (que parece uma sertã a refogar cebolas em série), da roupa que se cola com o sebo da minha pança que entretanto vai derretendo (ao menos isso), das mãos ásperas e notoriamente sujas (por mais vezes que a lave), tem que me acontecer isto e eu ficar assim. Acabei o fim-de-semana com vontade de empreender certa e determinada viagem até à gloriosa capital do império mas agora não sei.

E está calor como o caralho…

02 junho 2005

Já sou GANDE!!


Fui às compras ontem!

Enchi-me de sentido de responsabilidade, revi a despensa e o frigorífico mentalmente e fui comprar mantimentos que a população lá por casa aumentou desde ontem.
Voltámos a estar em número, os compartimentos tinham as luzes acesas, não por esquecimento, mas sim por haver quem ocupasse o espaço e que para tal precisasse de iluminação.

Comprei tanta coisa! Comprei papas Nestum, comprei tomate e alface, comprei iogurtes (muitos!) comprei pickles, comprei papel higiénico (que já não havia em casa), comprei queijo e ganhei uma faca de cozinha, comprei cebola que estava mesmo a acabar e comprei mais coisas só que agora não me lembro. E gostei! Parecia uma senhora grande! Como a minha mãe!
Ainda me lembro da camisa do pai que estraguei com uma proeminente marca do ferro de engomar porque queria, à força toda e mais alguma, passar roupa a ferro “como faz a mãe!”. EHEH!
A mãe conta que me punha ao ladeco dela no tanque com um balde (e sabão porque sem sabão não era a sério) a lavar a roupa das bonecas tal e qual “como faz a mãe!”Era eu quem lavava a louça do pequeno-almoço e já atava os atacadores sozinha para ser uma senhora grande “como é a mãe!” .
O que senti ontem foi um pouco dessa mesma magia de ter um modelo a seguir, cumprir com as tarefas da mesma forma como o faz outrém, sentir orgulho porque nalgumas das coisas que faço, revejo os gestos da minha mãe. E isso é bom porque minha mãe tem gestos muito bonitos!

EH EH!

01 junho 2005

Maldita dor de cabeça que há já dias decidiu não me largar. Não é daquelas lancinantes, muito menos das que doem em demasia, é aguda e parece um silvo, como o som duma panela de pressão a cozer algo ao longe. A atenção não está sempre lá, mas ouve-se à distância, txxsss txxsss .. txsss txxsss, num ritmo compassado de comboio em marcha.
Sinto as pálpebras tão pesadas que chego a fechá-las amiúde na expectativa que os olhos se humedeçam. Faço o triplo do esforço em praticamente todas as tarefas a que me proponho e ando exausta por isso mesmo. Ainda por cima está muito calor e o meu tecido adiposo sobreaquece, transpiro como nunca e sinto o corpo áspero.

Apetece-me dormir uma sesta à beira do rio, com a barriga cheia e sons familiares atrás de mim, sons de riso, gargalhadas de quem durante o almoço se deixou levar pelo sabor dum copo de vinho a mais. Podia ser que esta maldita dor de cabeça se tornasse indisposição, a passar com umas braçadas contra a corrente do rio. Entrar na água e tirar este enguiço de má fortuna que me caiu nos ombros, como se as águas revolvessem no fundo e se deixassem sujar pelo mal que me acompanha.

Um cheiro a sardinha assada na hora, com salada de pimentos que, instantes volvidos, havia ajudado a descascar enquanto roubava lascas húmidas e bem quentes do fogo. A broa cortada à mão, as batatas que ardem na língua de tão fumegantes, a movimentação em busca dos alimentos, os braços que passam coisas, as mãos que as recebem, uma melodia tão igual em tantos sítios e pessoas tão diferentes que faz inveja saber que tão cedo não voltará a passar-se.

Agora é época de tormentos, a felicidade já se gozou toda… Nem para quem gosta de mim tenho paciência, expludo com situações mínimas, faz-me impressão alguns gestos e nem todas as caras me dão o que realmente quero. Nem sei bem o que realmente quero.
Hoje dói-me a cabeça e quero que me façam mimos…