25 maio 2004

Ainda só hoje é 3ª feira… A rotina mata-me, deixa que a vida passe sem que dê por ela e tanto que ainda quero ver!
Dou conta que tudo é igual, o esforço por mudar é inútil, deixa-te andar jovem, deixa-te andar. Mas é triste.
Pensar que o tempo se encarrega da cura, enquanto os dias tratam de as lamber. Verdade que vai saindo o pus e as maleitas normais dum processo de cura, mas enquanto não se tira o curativo o que é que se faz?

Nestas idades há tudo para aprender. Como já disse num ou noutro post, na universidade aprende-se a ser profissional de algo, ou pelo menos são adquiridas as acendalhas para uma fogueira mais ou menos bem sucedida. O pior é quando se tem que enfrentar o mundo real, onde não basta a acendalha, é preciso ter em conta o combustível e a forma como se monta a pilha de madeira a arder.
Para quem ainda não percebeu o que quero dizer, imaginem como foi para vós tirar a carta, desde a fase do código de estrada, até à condução propriamente dita. Inicialmente aprendem-se limites de velocidade, sinais que não lembram ao Deus menino, vulgo Emanuel, restrições para estacionar, em suma, toda a etiqueta a ter em pleno alcatrão. O meu durou nove meses ao fim dos quais me tiveram que marcar o exame. Preguiça a quanto obrigas...
Passada essa fase, vem a condução. As aulas são giras e com o decorrer do tempo os records do Fanjo não são nada para quem já deu 100 numa nacional!! AHAHA!! Somos os maiores!!
Vem o exame, tem-se a carta, permissão para andar na estrada, dar boleia aos amigos que até então se haviam mostrado tão prestáveis em levar-nos a nós, o mundo é nosso. Só que, andar por caminhos marcados pelos instrutores e calcorrear estrada e monte, sem qualquer tipo de indicação, não são bem o mesmo. É preciso discernimento e sobretudo ganhar experiência. Os sustos, os outros Fanjos que aí andam, as velhinhas que fazem sinal para passarmos nas rotundas, os velhos que desconhecem que o carro tem mais que 3 mudanças, papa-reformas que nem em privados pátios deviam poder circular, há de tudo para todos os gostos. E é nessas alturas que pomos a mão à cabeça (tipo reclame do totoloto:”esqueci-me de jogar no totoloto!...”) e nos vem o pensamento:”Isto não é nada do que me tinham dito, caramba!”
Com a vida também é assim. Os pais avisam-nos, os professores avisam-nos, colegas mais velhos, irmãos (para quem os tem), amigos (para quem os tem), todos se encarregam de alertar para as vicissitudes (Ai o que eu gosto de dizer vicissitudes! Experimentem: VICISSITUDES!) que ainda nos esperam.
Tudo bem, já o Rui Veloso dizia que ser jovem não é fácil, mas daí a que tudo se complique da forma como, pelo menos para mim, se complicou…pah…tipo..Não me lixem!! Nos tempos de estudante, vivia rodeada de gente, sempre em cima do acontecimento, e numa ou noutra vez com sorte era o acontecimento que estava em cima de mim, mas agora... O marasmo de não saber o que se faz da vida. Sair à noite e não achar divertido, ficar em casa e sentir o peso dos anos que ainda não tenho? Tenho nos ossos menos tempo que a democracia, bolas…
Parece que em termos de alternativas resta casar, ter filhos, um emprego estável e ir almoçar a casa dos pais dum dos conjugues aos domingos. O que é isto? A parte do código, da condução? Como se faz? E se eu não quiser? Fico a ver todos os outros a entrar na never ending storie e a costumeira: “Ainda vais ficar para tia…” E se seu quiser que tal aconteça?
Como é? Há que penar, levar com ela na cara? Desilusões com pessoas, com o emprego que não compensa as chatices, ver que à volta tudo se joga por interesses, ninguém se preocupa desde que não lhes falte pão na pança, qual “Senhor Marquês e o nosso fim do mês?”, é um mundo de cão. Gente tão falsa por aí, caras que se tornam estranhas quando mudam os interesses e a tudo isto há que habituar a carne. Sofre…
Como é que se vive?

Porra, esta merda devia vir com manual de instruções!!!!


P.S.: D.ª Maria José, como é que a senhora faz?

20 maio 2004

Ser produtivo neste país não é fácil. Quando se mora em cidades onde os bares vendem cerveja ao litro pela singela quantia de 400$00 e jarras de sangria por 1000 paus, quem pode censurar aqueles que, como eu, são fortes adeptos da modalidade “manda vir outra”? No dia seguinte ninguém aguenta com nada, convenhamos, mas eu explicarei e lanço um repto a colegas meus de treino que querem desistir: insistam e treinem que como se diz em Inglês “practice makes perfect”!
Como qualquer outra disciplina desportiva que se queira levar a sério, o “manda vir outra”, quando jogado ao seu mais alto nível, requer: prática, treino e muita concentração. Beber diariamente custa e quem o faz afincadamente corre o sério risco de lesões internas e outras que se reflectem no dia seguinte em dores de cabeça, secura constante e fortes dificuldades em ingerir, direi mesmo, cheirar qualquer tipo de comida.
Há um outro risco, no meu caso é bastante remoto, que é o dum gajo se fartar! Felizmente há grande variedade de bebidas, quase tantas como os modelos de ténis para basquetebol, e só os amadores chegam a este ponto de fraqueza, acabando por desistir e dizer: “-Hoje não bebo mais… Não me ‘tá a saber bem…”. Quase como aquelas fats que surgem por épocas e que facilmente se esquecem. Quem é que nunca quis ser profissional de alguma coisa e pela periodicidade e rotina, que ser profissional implica, acabou por desistir? No “manda vir outra” isso não acontece e, quanto mais outras vierem, o palato e o discernimento começam a desaparecer, levando a que o desporto se pratique quase sem que nos apercebamos da quantidade de garrafas que já nos tiraram da mesa.

Esta fase coincide com a não muito agradável altura em que os donos do estabelecimento/ginásio onde decorrem os treinos, aumentam o nível da contenda, mexendo no chão e alterando o campo de visão de, ecrã inteiro, para ecrã em modo palplus. Os verdadeiros atletas, e até hoje conheci poucos que não fossem da minha família directa, apreciam esta fase do treino normal já que a mesma duplica a concentração. Convenhamos que coordenar duas pernas, o léxico e o sentido cinestésico torna-se complicado e ter uma boa prestação nesta etapa de provas é sobremaneira gratificante.

Serve este apontamento para todos aqueles que se embaraçam e temem admitir o seu fanatismo pelo “manda vir outra”. Não será um desporto muito saudável mas, ao contrário dos futebolistas e afins, não é preciso dizer sempre a mesma coisa como:”o jogo correu mal… não ganhámos porque a outra equipa marcou mais golos e nós acabámos por os sofrer! 'Tamos confiantes que póssamos recuperar na próxima jornada, mas a sorte não esteve cagente,enfim!” Sempre podem ser ditas coisas mais inteligentes como:”o vinho é frutado”, ou “a sangria está muito saborosa”. Se bem que na fase final dos treinos ou das competições, um praticante ao nível que eu me considero, não diz sequer pão, mas deve ter sempre preparada a frase de segurança (se possível em várias linguas...):”Onde é a casa de banho? Acho que vou vomitar…” Nem sempre a frase sai tão bem encadeada mas dizer palavras chave como “vomitar” normalmente é o suficiente.

Uma dica importante para quem inicia a actividade é tentar descobrir antes do início da prova ou treino onde pode descarregar baterias e o estomâgo. Note-se que esta técnica só não funciona quando a memória nos falha, mas aí… nada a fazer.

Apesar de todos estes contratempos, é praticada em conjunto e o convívio que se gera é deveras gratificante, já que se chega a uma mesa onde se conhece meia dúzia de gatos pingados e acaba-se a noite a dizer à outra dúzia e meia como são pessoas porreiras. É muito humano praticar o “manda vir outra”.
Numa sociedade como a nossa onde não há oportunidade de aprofundar o conhecimento dos outros, nada melhor do que uma modalidade em que no espaço de horas, todos os que nos rodeiam nos parecem os nossos melhores amigos e com quem se trocam confidências como:" Fiz chichi fora da sanita...E GOSTEI!!”

A todos os que querem começar a modalidade, existem excelentes campos de treino nas Universidades (onde me introduzi na alta competição) e em diversas tascas típicas espalhadas pelo país. Não confundam no entanto este espaço com as afamadas semanas académicas, essas temporadas são destinadas somente a profissionais e o envolvimento de novatos só serve para envergonhar os verdadeiros praticantes, cuja fama tem sido fortemente prejudicada. Devo dizer-vos inclusivamente que temos nesses eventos e campeonatos, um ou outro recorde mundial.
É motivo para continuar a praticar!


Dedicado à Joana Rocha: “Never stop the bues"