01 junho 2005

Maldita dor de cabeça que há já dias decidiu não me largar. Não é daquelas lancinantes, muito menos das que doem em demasia, é aguda e parece um silvo, como o som duma panela de pressão a cozer algo ao longe. A atenção não está sempre lá, mas ouve-se à distância, txxsss txxsss .. txsss txxsss, num ritmo compassado de comboio em marcha.
Sinto as pálpebras tão pesadas que chego a fechá-las amiúde na expectativa que os olhos se humedeçam. Faço o triplo do esforço em praticamente todas as tarefas a que me proponho e ando exausta por isso mesmo. Ainda por cima está muito calor e o meu tecido adiposo sobreaquece, transpiro como nunca e sinto o corpo áspero.

Apetece-me dormir uma sesta à beira do rio, com a barriga cheia e sons familiares atrás de mim, sons de riso, gargalhadas de quem durante o almoço se deixou levar pelo sabor dum copo de vinho a mais. Podia ser que esta maldita dor de cabeça se tornasse indisposição, a passar com umas braçadas contra a corrente do rio. Entrar na água e tirar este enguiço de má fortuna que me caiu nos ombros, como se as águas revolvessem no fundo e se deixassem sujar pelo mal que me acompanha.

Um cheiro a sardinha assada na hora, com salada de pimentos que, instantes volvidos, havia ajudado a descascar enquanto roubava lascas húmidas e bem quentes do fogo. A broa cortada à mão, as batatas que ardem na língua de tão fumegantes, a movimentação em busca dos alimentos, os braços que passam coisas, as mãos que as recebem, uma melodia tão igual em tantos sítios e pessoas tão diferentes que faz inveja saber que tão cedo não voltará a passar-se.

Agora é época de tormentos, a felicidade já se gozou toda… Nem para quem gosta de mim tenho paciência, expludo com situações mínimas, faz-me impressão alguns gestos e nem todas as caras me dão o que realmente quero. Nem sei bem o que realmente quero.
Hoje dói-me a cabeça e quero que me façam mimos…

1 comentário:

Anónimo disse...

A felicidade não se gozou toda. Ainda vais ter que bulir muito.

Vais arranjar e desarranjar amor até acertares, vais parir, vais aprender, vais rir, vais chorar, ralhar, vais ensinar, vais ter que cuidar dos sobrinhos, vais ter vizinhos, vais ter que correr e fazer os abdominali, vais ter que ter cabedali, vais ter muita gente que te adora, vais ter que adorar tamém senão levas na boca, vais montar um restaurante, vais cozinhar pá genti. Vais, porque tens aquela alegria inacreditável que tem teu irmão, aquela alegria que só com alguns nasce, aquela alegria que contagia. vais vais.