14 junho 2005

Os médicos não falam o português e servem um público que domina a língua mãe de forma parca e frugal…

Passo algum tempo entre serviços médicos e hospitalares e o que mais me salta à sensibilidade (que acreditem não ser assim tanta) é a falta de humanidade com que se tratam os doentes. Não falo dos maus cuidados médicos, disso não me queixo porque não tenho argumentos para me queixar já que pura e simplesmente não sei o que eles fazem. Refiro-me sim ao toque pessoal, ao tacto na linguagem, à preocupação em saber o resto da doença, o resto do doente.

Cada paciente ao dar entrada é tratado como um episódio, anotam-se sintomas e sinais e tudo se guarda num arquivo dentro dum classificador. Compreende-se, é muita gente, a informação tem que circular bem, mas e o resto? O resto perde-se no caminho entre a entrada na urgência e o tratamento efectivo do paciente. Há tanto mais à volta que se ignora e não interessa, não é académico, não acaba em qualquer coisa imperceptível “ite” nem em grande-palavrão “igia” e só por isso não interessa nada.

Os sentimentos do doente são os sintomas da doença e nada mais que isso, a família transforma-se em dois cartões para visitas e num transtorno para a equipa médica com perguntas e mais perguntas, a profissão e o modo de viver de quem se contorce e geme esquecem-se, tornam-se um segundo plano, de quem deixa de ser útil. Passa-se a servir o corpo e as suas manhas, deixa-se o seu uso para outros tempos, a saúde é uma memória.

Deve ser triste saber, tal como é muito triste ver, que as nossas falhas, a falta de controlo do corpo, tudo o que se deixa de comandar na carne, são motivo de chacota e de conversa entre aqueles que juraram zelar pelo nosso bem. Compreendo o distanciamento, também eu gargalhei em ocasiões com as aventuras que pessoas amigas contaram, mas os “episódios” são episódios de gente(s) e exijo sempre que me olhem assim, mesmo que não seja meu o peso que molda o leito.

Vejo a medicina não como um combate às doenças, encaro-a como uma luta pela vida do doente e antes de entrar no hospital, todos levam uma história, todos levam algo de si que deve ser respeitado e lembrado. A D.ª Paulinha, acamada, faz isso mesmo com aquele brilhozinho nos olhos. Se calhar, é por isso que quem a trata se lembra que existe uma vida e por isso a trate tão bem.

E pronto!

2 comentários:

Anónimo disse...

Prontinho!!!
Pois é, eles falam por códigos!!até mesmo por causa de animais, tenho a experiência em casa...!
Mais engraçado é quando alguém que não percebe nada do assunto tenta transcrever as palavras de um Sr. Doutor!!!
"O SOUDOUTOR disse que o pai tinha tido um ABC (ora...aprendeu o abecedário?? ou soletram palavras que nem sequer sabem o que querem dizer??)...ou com uma amnésica!!!"
Vá,como alguém me dizia:"Não se diz mal das pessoas!!!"
Como é que se podem perceber nomes de doenças se pessoas há que dizem IMEN em vez de INEM???INSTITUTO MÉDICO DE EMERGÊNCIA NACIONAL!!!
Aiii, que parvalheira!!!
A culpa é dos médicos...as pessoas não têm culpa!!!!!!!!!Eles falam só pa eles...Deviam saber traduzir para os demais interessados!

p.s.: "leave your comment".experiência a repetir...

bambú

Anónimo disse...

Estamos a esquecer que a maior partes dos médicos também têem uma história a ser lembrada. A grande maioria deles foi para a sua prestigiada profissão por simples vaidade, por mera vontade estupida de ganhar boa grana, porque eram privilegiados e bem abastecidos de guito, porque tinham boas notas e não sabiam para que raio de profissão ir...
...e etcetras de motivos nada nobres... isto na minha parca visão de censo comum, claro!
Todos os médicos têem uma história, mas é engraçado que mesmo assim sabendo, nutro pelos mesmos um pequeno ódio de irritação, pois ainda não conheci nem um com um nariz pra baixo ou neutro, todos eles têem os narizes pra cima. Pronto!

PS- hoje vamos ver 1 filme?
PS2- e comer gelados?
PS3- vou só lavar os dentes, ok?