30 maio 2005

Arreganhas a taxa ao sabor dum vento que vai passando, passando e a vontade de rir só aumenta, aumenta, enquanto se molham os pés numa qualquer poça de água, um charco de vitória na sensação da água a entrar e a molhar tudo. Há imagens que não se esquecem e esta ficou-me na cabeça desde há uma mão cheia de anos, mais que muitos, demasiados mesmo para um cheiro tão vivo. São os gostos que trago na pele de quando fui mesmo muito feliz e feliz na forma verdadeira que é quando não se sente logo, mas sim depois… ao deixar de o ser e a sucumbir em modo crescendo aos fardos da vida que insistem em acumular-se de chofre.
Era alegre, dá para ver no sorriso que a memória me traz, usava roupa leve deixando o corpo livre de o poder expressar também numa brincadeira, num jogo, parvoíces de quem só se preocupa com o momento, deixando-se ir arreganhando a taxa sempre e só porque sim.
Recordo cheiros vêm-me as imagens (sim, eu também sou cinestésica) e fixo um ponto para me lembrar com clareza, uma espécie de freeze da realidade, um efeito especial qualquer da mente que nos alheia do agora e nos deixa entrar num sempre sem fim. É doce ter lembranças, fica um calor estranho na cabeça, enche-se o peito de não sei o quê e solta-se um suspiro, quase de alívio por ainda existirem e por terem sido reais e não fruto da imaginação. Não é uma fantasia, é sim uma lembrança, palpável quando se volta aos locais, quando se sente o bafo quente na cara e se molham os pés nas partes mais rasas do rio dum enganador azul, armadilha para os que não dominam a arte de boiar e deixar-se ir. O mesmo barulho dos insectos, a mesma dança com as mãos à procura de sossego, a vertigem no estômago de tão belas paisagens, quase como a que se sente quando se ama, é tão bom e são tantas.
Os afagos de quem se amou são sempre bons, mesmo que o “amar” mude de feitio, ou de forma de expressão, mesmo que surjam condicionantes a atrapalhar a simples vontade, é sempre o mesmo calor transmitido e lembra-lo dá um frison muito je ne sais quoi, um quase arrepio e é bom lembrar.
Fisicamente mínima, mas lembro-me desses dias, as rotinas que desaprendi por já não ter figurantes suficientes, lembro-me até muito bem. Saudade tanta, oh mãe querida, saudade tanta…

Sem comentários: