12 julho 2004

Grande Lhasa, música do mundo para gostos menos próprios ( sendo que “próprios” significa Standertein Diccionário Tia Gijocas, vs 2004 ). Gostei muito do concerto da senhora, dos músicos, do jogo entre eles, aqueles olhares que parecem sem nexo, mas que o têm e muito, caso contrário não acredito que conseguissem entrar e sobretudo tocar, todos ao mesmo tempo.

É tão engraçado tocar ao vivo! E é bom expiar dúvidas e reclamações da vida no som dum instrumento. É libertador tocar algo. Há quem extravase a dor de estar vivo na escrita, outros expiarão as suas culpas no vinho, quem tem amigos usa ombros compreensivos para se purgar, aqueles senhores fazem uso dum dom para não só se libertarem mas também para darem a conhecer isso mesmo ao seu público.

E eu gostei da forma como o fizeram!!

Também eu já tive essa oportunidade. Pisar o palco, sentir os olhares pousados no que nos propomos fazer, o suor das mãos, é o pânico. Normalmente comigo, depois das primeiras notas, o som começava a fluir melhor e a inibição a voltar para o seu lugar, donde nunca deveria ter saído. A música surge no seu encanto, há uma ou outra nota que falha, mas a concentração volta e parece que os dedos já sabem o seu rumo. Chega sempre a fase mais inspirada em que o dedos chegam mesmo a ir mais além com o improviso que confere aquele brilho, e é nessa altura que tudo parece estar bem. Entretanto a música acaba e a sensação de dever cumprido instala-se como se em toda a nossa vida não tivéssemos feito outra coisa. É esta a minha missão!

Gostava de saber como é com os grandes artistas, aqueles que fazem da música ganha-pão, será que também transpiram e dormem mal na noite anterior, como acontecia comigo? Ou não conseguem comer e são avassalados pelo degarrar do intestino, como tanta vez testemunharam aqueles que partilham o lar comigo? É complicado… Os nervos surgem duma forma até então desconhecida, descobre-se que nem só de frio as mãos tremem e é o descalabro e a sensação:”Porque é que eu me meti nisto?”

Mas como já havia dito, no final até é bom. Bastante bom mesmo. Ser músico deve ser mesmo muito bom!E quando se é musico como os da senhora dona Lhasa, então aí sim, deve dar gosto acordar todas as manhãs!

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