17 março 2005

Vi ontem o 5º filme da minha vida que me levou à lágrima. Na certa, todos já o tinham visto e com a certeza absoluta fui a última a aperceber-me que o mesmo já estava disponível numa sala perto de mim. Não sou de chorar nos filmes, penso sempre no cachet de quem os faz e rio-me bastante.

No Titanic quase fui convidada a sair porque já não aguentava o riso silencioso e, de tanto o engolir, comecei a fazer uma violenta dança com o abdómen, tendo sido obrigada a gargalhar de forma sonora. Ou isso ou explodia. Gargalhei.

Mas ontem não foi o caso, custou-me ver a película até ao final, custou-me ouvir aquela história e custou-me estar no meu lugar, sem reacção, pelo que chorei. Fui ver o Mar Adentro. A história do Sr. Ramón Sampedro, tetraplégico aos 20 e poucos anos, que queria morrer.

No 10º ano de escolaridade surge uma disciplina nova que nos dizem ensinar a pensar (para quem até então nunca havia descoberto essa possibilidade). A mim ensinou-me uma coisa ou outra, algo de novo: uns quantos nomes em estrangeiro, construir silogismos (era mais ou menos como os leggos), eram horas descontraídas e não tínhamos que levar máquina de calcular.
O que mais me lembro é das primeiras aulas em que se introduz a filosofia (para quem ainda não sabe de que disciplina falo) como sendo uma disciplina que surge para dar resposta a perguntas como:”o que andamos aqui a fazer, qual o sentido da vida”, etc, etc. Perguntas que não comecei a fazer nessa altura por já as ter feito algum tempo antes, mas que marcam e dão azo a tanta discussão e conversa que quase não vale a pena interrogar mais.

O Sr. Sampedro, sabia o sentido da sua vida e aceitava-o com uma coragem que muitos não temos, seguindo o rumo normal que o corte do cordão umbilical nos deu. O sentido daquela vida era o de acabar no instante em que a caminhada para o desespero começou. O que ele queria mesmo era morrer, não por não encontrar sentido na vida, mas porque o sentido da vida dele era esse mesmo. Transcenderam-me os argumentos capciosos que ele usava. As certezas eram tantas que viver neste mundo, como o conhecemos, fazia com que saísse de si, sonhos reais de outras andanças, não deste mundo. Captar os cheiros, enredá-los com as lembranças, é bonito, difícil de fazer com clareza, mas não é viver.

Anda-se por andar, sendo eu um exemplo vivo deste laxismo perante a vida, não sei qual o sentido da minha e prefiro nem pensar muito nisso. Deixo-me andar, pode ser que entretanto surja. Com toda esta motivação andamos milhares, um enxame sem colmeia, vamos pousando de gineceu em gineceu (correndo o risco das segundas interpretações), o polén sabe todo ao mesmo. Desde que alimente, no dia seguinte voltamos a acordar.

Sem pretender moralizar, sem querer chegar a lado nenhum, não percebo nada de eutanásia e nestas ciências da vida abomino quem moraliza e impõe a sua vontade com base em sofismas do tempo em que a fogueira era o destino para quem ousasse benzer-se ao contrário. Nunca pensei muito nestas questões, nunca fui confrontada com algo assim, humildemente (!!aqui de baixo, fala do R/C esquerdo da sabedoria!!) não sei se é correcto aceder a um pedido de assistir a morte de alguém. Só sei que naquela história, da humildade daquele lar, sai uma lição nova para mim.

Vejam o filme e aprendam-na também.



P.S.: Para quem quiser saber, os outros filmes em que chorei foram: Filadélfia, o CineParadiso, a Lista de Schindler e (vergonhosamente ou não) o Bambi...

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