27 janeiro 2016


Pergunto-me várias vezes se já é de manhã... não quero abrir os olhos sem que o seja, tenho medo de me desapontar. Esperei demasiado tempo para o dia que aí vem que, só de imaginar que ainda não chegou e terei que voltar ao exercício da espera, é por si só demasiada angústia, na repetição dum momento. Mais valia levantar-me duma vez, sair e soltar-me destes lençóis sujos e gastos, marcados com o pouco de humanidade que por aqui deixei. Mexer as pernas, fazer qualquer coisa, já que em horas ou minutos (prefiro nem saber) estarei fora daqui. Sempre me esquecia da maldita espera. Arrumava o pouco que tenho: dois pedaços de vidro, algum tabaco em folha e uma malga, toda a propriedade que me foi permitida acumular desde que entrei na Empresa. Gostava de saber porque os guardo, mas não me é possível. Sei que um dia os encontrei comigo e foram estando do meu lado. Lembrar-me da vida que levava antes é praticamente impossível, há muito tempo deixei esse exercício tendencioso. Não nos é possível lembrar com precisão ou isenção de parecer, quando a captação do exterior é puramente sensorial ou até mesmo ditada por quem sabemos saber melhor que nós. Memórias presentes do dia-a-dia de anos, uma vez descontinuadas ou deixadas de praticar, libertam-se da realidade e entram no rodopio da imaginação e do colorido que mais conforto nos traz. Cheiros, pessoas, luzes, tudo interfere com a verdade, com o que é real e nem sempre nos agrada ou convém. Das últimas vezes que me lembro de me lembrar, convenci-me que existiu uma Família que me acolheu, alguém que gostava de mim (ou da minha companhia), um sorriso ao chegar junto duma mesa e as palavras "estás aqui!" ditas com o entusiasmo de quem encontrou quem precisava encontrar. Talvez imagens da propaganda do concurso para entrar nas Famílias, ou nos Copuladores, bonitas cores assimiladas de forma involuntária nos dias em que nos permitiram saídas, ou talvez até dos dias em que podia sair sem autorização expressa de quem permite... Mas não garanto, precisava de confirmação. Não afianço que tenham acontecido mesmo, mas se aconteceram algumas delas são particularmente aconchegantes. A terem sido reais, pareceram-me ter sido bons momentos. Durante a minha passagem pela Fase I, as saídas foram proibidas a todos abaixo de Peões, sem que até hoje se tenha percebido o porquê. Desconfiou-se dum qualquer companheiro perdido na tentação de alterar a sua actual origem, rumores de alguém de fora cuja origem gostaria de ver trocada pela nossa, nada se confirmou e muito foi desmentido. Falatórios, alcovitices, mexericos com poucas certezas, caíram por terra pela falta de atenção que lhes foi dada e por quem tinha que se preocupar. Deixámos de poder acompanhar o desenvolvimento do mundo lá de fora. Não era importante. Havia assim mais espaço para tudo o que precisávamos de aprender. Havia mais tempo... Aaaahhhhrrrgggg!!! O maldito do tempo. Terá amanhecido? volto a perguntar-me... Deverei levantar-me? Indago virando-me agora de barriga para cima na cama. O tecto continua escuro, manchado e desenhado com formas cujo arranjo por si só se assemelha a um mapa. Linhas mais sulcadas desenham caminhos, trilhos com diferentes destinos e ramificados entre si, num arranjo citadino de quem não o soube ordenar. As nódoas, com tonalidades variadas são as terras dos diferentes Grados e nos restos de musgo (ou quaisquer outras coisas que por ali nascem), vejo os bosques onde Famílias, Copuladores e diversos Mestres de Casas nos apreciavam nas nossas montras envidraçadas. Era com orgulho e importância que nos sentávamos nas carroças de vidro, bastando a nossa presença, para conseguirmos relembrar aos Gerais o porquê de não se contestar aqueles que sabem. A fazê-lo o destino seria aquele que era o nosso presente e pelas expressões de asco, pelas reacções de raiva, o nosso presente não era o melhor. Volto-me na cama e também estas paredes me ajudaram a projectar mundos que não este. Na parede à minha esquerda, junto ao que imagino tenha sido um rodapé, vejo o esconderijo onde guardo o que consegui juntar. Diariamente, com um dos cacos de vidro, raspei, raspei, furei, furei, até caber tudo. Esse tudo era pouco na verdade, mas guardá-lo longe das Revisões, saber da sua existência e do seu secretismo, era terapêutico. Um canto que só eu sabia existir. Não sei mesmo se lá fora algum dos Grados terá o mesmo privilégio. Talvez os Mestres... Acredito que a eles tudo seja permitido. Não tenho como levar o que lá guardo. Deixá-lo e esquecer? Rapidamente passariam a lembranças, tornar-se-iam nada e deixariam de existir, menos uma preocupação. Não possuo nenhum saco ou bolsilha onde guardar o que me pertence. Criar um receptáculo, uma bolsa ou algo assim que me permita sair daqui guardando tudo de forma não suspeita. Não quero que percebam que guardei fosse o que fosse durante a minha estadia. Por mais que me fosse incutido, por mais que praticasse, não fui capaz de cumprir com o Desapego. "Tens potencial para aprender, mas precisas de tempo"... Aquele no qual não queria pensar e que parece não querer andar. Oiço passos no corredor na cadência acelerada de quem para onde ir, Encolho-me na posição em que estou e tenho medo. Muito medo mesmo. Já não me lembrava do que era isso...

21 setembro 2014

Esqueci-me de tomar o pulso esta manhã.


Feita a rotina normal, tudo colocado no sítio, pela ordem correcta e seguindo a ordem correcta, falhou-me esse detalhe na rima do soneto que tem sido a minha vida nos últimos anos. Acabou por ficar sem a sua chave d'ouro, sem a sua conclusão fulcral para que pudesse ser entendido, e o Mestre não vai gostar. Mesmo que a explicação seja a mais racional, mesmo que não use a Desculpa, ou até mesmo a Razão Máxima, como tanta vez ouvi dizer, o Mestre não vai gostar. De todo o meu tempo em funções, nunca vi parceiros meus, terem esta falha perdoada ou até mesmo esquecida ainda que com um "Log Diário" perfeito, jamais se perdoa a falha de "Tomar O Pulso"! Tanta norma cumprida hoje, quase a totalidade do registo próprio feito, classificado e mesmo assim, falhou-me o elo de ligação para todo e qualquer tipo de interpretação da minha existência. Imagino a cela onde pernoitarei durante um ano pelo menos, a goteira a martelar no chão, os ratos que serão meus companheiros enquanto as minhas extremidades lhes servirão de alimento, a poça criada pelo caldo de suor de quem é coagido achar-se merecedor de tal destino. Esperam-me meses de reflexão, ditados mentais de louvor ao Mestre, o doloroso procedimento de auto-aprendizagem, silogismo para um numero diário e variável de chicotadas auto-inflictas, a par com a vociferação de agradecimentos pela oportunidade oferecida. Agradecerei o meu sofrimento enquanto processo de aprendizagem, louvarei a quem me permite aprender a não falhar da mesma forma. "Escapou-me", direi com medo do castigo que me espera, tentarei não pensar no caminho para o cadafalso, farei um esforço por manter a serenidade, quando cairem as faixas vermelhas ao longo do corredor que me conduz ao que sei que me espera. Porque raio me fui olvidar do pormenor mais importante do "Log Diário"? Apontei o ritmo de crescimento capilar, o nível de temperatura por volume corporal, os torques tendonais, a coloração dentária e a espessura pelicular das unhas, e não registei o pulso? O Mestre ensinou-nos que não há culpas, mas sim responsabilidades, e por isso dever-lhe-ia ser imputada a responsabilidade de todavia não ter magicado uma forma de extrapolar o pulso com base nos nossos registos. Eventualmente colar-nos um mecanismo complexo, como só o Mestre sabe fazer, que fizesse tudo isso e nos libertasse para o resto das actividades. O Mestre não se engana, nunca o vi enganar-se e de todos outros Peões que soube terem falhado, jamais vi algum arrependido do que passou na Sala de Consolidação. Pelo contrário vi-os sairem mais fortes e convictos da sua missão e importância. Quem sabe é isso mesmo o que me falta para passar a Peão Primário. Convicção. .... Convenci-me que afinal o mestre é quem tem a razão.

11 fevereiro 2009



Perdida na transladação duma tal vontade... Perdida em seis horas de atraso, porque a companhia escohida, não é das mais caras e o serviço é o que se arranja. Better safe the sorry, lá diz o povo.

Nem sempre me parece que o problema seja do sítio e começo a viciar-me nestas mudanças de um par de dias.

Vamos viajar mais? Keep on going?

16 janeiro 2009

Glenn Mederios - nothing gonna change my love for you

Passeios à beira-mar, cavalgar com o pôr do sol, um jovem moço a cantar olhos nos olhos da gaiata...e um vestido cor de rosa de mão dada com um rapazola de branco.

Já repararam como nestes vídeos nunca se vêm as caras das moças?

Malditos anos 80!!!!


P.S.: Agradecimentos à Barbe pela bela lembrança !!

16 agosto 2008

TO MiMi

Para o MiMi MimiMimiMimi_MimiMimiMimiiiiiiiiiii!!

clap,clap,clap,clap

17 julho 2008



[Wayne Mclaren - Malboro Men, 27 anos]

Uma pequena vitória...

Quando colegas me falavam das suas sendas, experiências e empenho em largar os vícios, lembro-me que quase sempre abanava a cabeça, resignava-me aceitando a derrotada, permitindo-me assim adiar por mais uns dias, por mais uns cobres, "just another puff, love!"

Procurei há dias o caminho mais fácil, de entre os mais difíceis, perdi amor ao dinheiro (contas feitas, a despesa não é assim muito diferente), agarrei-me a adereços mais ou menos parecidos, acessórios q me ocupam da mesma forma e heis senão que conto as horas que passaram desde que acendi o meu último cigarro. Todos me parabenizam, todos me dão força e alento, todos esperam que resulte.

Obrigada e sincero bem haja aos que me congratulam, contudo deixem que vos diga quão mais fácil seria se me tivessem dito que depois de fumar um cigarro o hálito sente-se a duas-cadeiras-de-café de distância, o cabelo fede a fumo a uma-secretária de distância, a roupa tresanda como tudo a três-pessoas-à-nossa-frente-na-fila-da-cantina de diferença e parece que cheiro de aterro em tarde quente de Verão, não é assim tão diferente da dança de bactérias e restos de comida na boca dum fumador.

Aos que me abraçaram, aos que se sentaram ao meu lado, trocaram epiteliais gustativas comigo, entraram no meu carro, devo dizer-vos que:"Já podiam ter dito alguma coisa!"

E para aquela colega que me amedrontou com a expressão "CHEIRAS A TABACO!", espero bem conseguir evangelizar como tu! A minha mãe ia gostar de te convidar para jantar lá em casa!



[Wayne Mclaren - Malboro Men, 51 anos]

17 dezembro 2007

Às vezes intimidade é dormirmos quatro, cada um com o seu sonho, cada um com a sua ilusão, cada um com a sua vontade.

Pode ser receber os amigos em casa, deixá-los saquear a despensa, usurpar o nosso canto, gozar com o nosso som!

É acordar duma noite meio dormida, entre belas risotas, conversas de raparigas, uma ou outra gargalhada de doer a barriga e muita boa onda!

Fez-se reset e inda apanhámos a alvorada!

Fui comprar croissants para o pequeno almoço da família e tudo... and some cigarrets and chocolat milk...